Casa de Espíritos

segunda-feira, junho 11, 2007

Uma nova vida

Já não dava. O estômago apertado, o peito ansioso, as dores nas costas. De cada vez que se falavam, ela ia para a casa-de-banho e durante 15 minutos engolia golfadas de ar. Por vezes, vomitava. Era ansiedade, sim. Era qualquer coisa química a meter-se nos poros.
Quando se encontravam, não conseguia deixar de bater a perna. Fumava os maços dos cigarros que não fumava nos outros dias. Fechava os olhos humedecidos quando lhe sentia o cheiro. Queria sê-lo.
Se acaso lhe respondesse mal, se desmarcasse um encontro, as lágrimas cair-lhe-iam pela cara. Deixava-as estar. O sal secaria na cara e adormeceria, qualquer que fosse a hora. Acordaria de manhã, olharia para o telemóvel e morderia o lábio se ele não tivesse ligado.
......
No dia em que a pediu em casamento, ela não enxugou as lágrimas porque elas não existiram. Abriu a janela do quarto, respirou o ar fresco da sua rua de cidade e decidiu. Não conseguiria nunca viver com ele. Apagou o número de telemóvel, mudou de cartão, de email, rasgou as fotografias. Fechou a porta à chave e rezou que ele não lhe implorasse para voltar. Não o esqueceria nunca. Mas ali começaria a sua nova vida.