Casa de Espíritos

quinta-feira, junho 19, 2008

Gonçalo

Foi o meu vício nestas férias. Qualquer bocadinho servia para estar com o Gonçalo. No metro, na esplanada, num jardim ou na varanda do P.. O Gonçalo (para além do M., claro), foi a minha companhia nos dias em Berlim. Não lhe pude resistir. Enquanto viajei fisicamente na capital alemã, viajei mentalmente por Espanha, estive num barco de mercadorias a atravessar o Atlântico até à América do Norte, onde passei, de autocarro, os Estados Unidos, andei mais umas vezes de barco e autocarro na Bolívia, no Perú, na Argentina, subi e desci o Amazonas, fui de barco para a Colômbia e até passei por um paízinho que não fazia ideia que existisse, na América Central. Atravessei o Planeta por trás, pelas águas do Pacífico, até às Filipinas, fui mais fotografada que os koalas na China, passei e senti o cheiro da Índia, conversei com famílias a fazer piqueniques no Irão, emocionei-me com as cidades construídas sobre armas e com as famílias especializadas em gatilhos do Paquistão e até estive prestes a pisar uma mina no Afeganistão! E fiquei tanto tempo em Instambul, imaginando-me acompanhada por esse tal amor que nunca mais chega... Conheci tanta gente interessante, ouvi histórias de pessoas simples mas que fazem coisas incríveis (por mais simples que estas sejam), ouvi outras histórias de pessoas que não se prendem à mesquinhez dos nossos dias. Fiz tudo isto com o Gonçalo. Sim, o Gonçalo passou a ser meu amigo, gente cá de casa, de vez em quando vem cá e conta-me as histórias que parece mesmo que fui eu a vivê-las. O Gonçalo é o Gonçalo Cadilhe, que fez o favor de compilar a primeira fase das suas crónicas do Expresso nesse livro fantástico chamado "Planisfério Pessoal". Entre uma viagem pelo mundo (sempre por terra ou mar), que também é uma viagem dentro de si mesmo, Gonçalo consegue ser diferente de qualquer outro autor de livros de viagens. É simples, engraçado, atento, intuitivo e ainda por cima, escreve bem! Sempre ouvi dizer que quem viaja muito está numa constante busca por si mesmo. No caso de Gonçalo Cadilhe, não sei se já se encontrou, mas pelo menos eu já sei qual é o seu lugar no mundo: fazer com que todos os que o lêem viagem também com ele.