Casa de Espíritos

sexta-feira, setembro 01, 2006

Histórias da Festa


Sábado, 5 ou 6 da tarde, Palco 1º de Maio (quando ainda era uma espécie de tenda de circo onde os lugares sentados eram... no chão). Em mais uma tarde dedicada ao jazz nacional, Mário Laginha entra tímido no palco de meio metro de altura. Começa a tocar e empolga-se. Levanta-se do banco e continua a tocar, quase que transpira de emoção. Lá à frente, há alguém que se levanta ainda dentro do saco-cama e pede: 'Ó Mário, toca mais baixinho, que o pessoal quer dormir...'.

Algures nos anos 80. Num dos palcos secundários, um grupo toca uma música de Zeca Afonso. Muita gente a dançar. Um punk cheio de piercings, alfinetes de dama, roupa preta de cabedal e cabelo em crista pintado às cores dança com uma senhora alentejana, de cabelos brancos, que podia ser a minha avó. Estão todos sorridentes. No final da música, o punk pega no colo a velhota e dá-lhe um beijo. A senhora é só risinhos. 'Ai magano!'

Sexta à noite, 2003. O pior grupo de sempre de música brasileira toca forró no palco Lisboa. Desafinam como nunca vi. São dois vocalistas, e nunca acertam para cantar ao mesmo tempo. Enquanto um diz para as pessoas cantarem, o outro pede silêncio. O músico que está no órgao desafina e esquece-se da nota que vinha a seguir. O público delira. Toda a gente - toda - dança como se não houvesse amanhã. Houve quatro encores.

ps: A Festa é sempre a Festa. Vou lá desde que tinha 3 semanas de idade. Gosto da Festa, porque não há (mesmo) Festa como esta. Vou agora para lá. Assim que entrar no autocarro, começo a tratar toda a gente por 'Camarada'.