Depressão de quase-quase-quase-início-de-quase-meia idade
Ainda tinha deixado algumas coisas em casa dos meus pais. E ontem tive de ir arrumá-las. As minhas recordações de 26 anos ficaram resumidas a três caixas. Os registos da minha passagem pela faculdade foram todos parar ao lixo (inclusivé centenas de páginas de fotocópias de livros e mais livros. Escapou 'a utopia', do thomas moore, sei lá porquê...). Fiquei apenas com as coisas verdadeiramente inúteis que já guardava há muitos anos. Exemplo: bilhetes de cinema - dezenas deles (quem é que ia ver 'O Piano' às 13h45 de um dia de semana no King? 350 escudos????); cartões de escola, passes, cartões de jornalista; fotografias foleiras de namorados que escreviam dedicatórias tolas nas costas ('para a pessoa mais querida do mundo, porque se não fosse assim eu não me teria apaixonado perdidamente por ela, como é o caso' - hahahahahah!); guardanapos com poemas escritos em inglês sabe-se lá por quem; desenhos abstractos de colegas do 9º ano que hoje são resposnsáveis financeiros de grandes empresas; cartas - muitas cartas - de pessoas que eu já nem me lembro quem eram (tive de explicar à minha mãe que nessa altura não havia email nem messenger (ela tb não sabe o q isso é...) nem telemóvel nem sms. as coisas eram mesmo ditas e escritas à mão); colecções de folhas de blocos com cheirinho; diários e agendas desde os meus 8 anos ('este fim-de-semana vou vestir a minha roupa nova. de certeza que o h. vai reparar em mim'); dossiers de escola personalizados (vivam os recortes do 'blitz'!); bilhetes de avião (quantas vezes fui eu a Londres?) e muitos bilhetes de concertos. Lloyd Cole em 1994. Jorge Palma em não sei quantos (só deixei de gritar nos concertos dele aqui há uns cinco anos). Festivais de bandas punk e rockabilly algures num clube recreativo em 1990. Caetano em 1997. Pearl Jam em 1993 (ou 4) em Cascais. Fiquei cheia de pó. E de melancolia idiota.
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