Fato de Verão
Olho para a menina que está à minha frente. Deve ter pouco mais de 30 anos, uma garota. Morena, cabelo ondulado, o perfume é doce. Estou encostado à porta, tento cruzar a perna mas não consigo. Este é o meu fato de Verão, beige e castanho; comprei-o nem há quinze anos. Ainda está um pouco frio, uso um pullover azul por baixo e o meu chapéu de feltro a condizer. Os sapatos são praticamente novos, não têm mais de quatro anos. Ainda foram caros; comprei-os por sete contos e meio, agora, no dinheiro novo. Nas mãos, nunca esqueço dos anéis, prendas de outrora. São de ouro bom, sei porque os mordi e reconheço-o. São três: dois no anelar e um no mindinho. Em casa tenho de os tirar, as mãos incham-me. Já não sou como antigamente. Olho para a menina. Ela passa por mim os olhos. Será que olha para mim? Estou bem arranjado, sinto-me bem. Na verdade, sinto-me um jovem, apesar de me esquecer de muitas coisas, coisas importantes. Mas em que penso eu? Quando olha, sei o que pensa: sou um velho, apenas, e eu aqui dentro com tantos pensamentos.