Casa de Espíritos

quinta-feira, julho 20, 2006

As teorias da tia Q.

“As estatísticas dizem que a maior parte das mortes em casa acontecem por choque quando se põe a parte de baixo da varinha mágica a lavar na máquina da loiça”, disse a tia Q. com ar grave. Eu disse-lhe que sim, que tinha razão, e que iria tomar mais cuidado a partir de agora. Mas na verdade, já não a consigo levar muito a sério. As teorias da tia Q. são sempre ditas assim, convictamente. Como da vez em que defendeu que a cor pálida do Michael Jackson era por causa de uma operação plástica, em que “tiram a pele verdadeira e colam uma nova, branca, que é feita a partir do plástico”. “Então e as cicratizes da cozedura, onde estão?”, perguntamos nós entre risos de estupefação. “Deve ser feito à medida”, pois então.

segunda-feira, julho 03, 2006

Distração divina

Na escola primária da Arrifana nunca houve mais de 30 alunos. E todas as classes eram metidas na mesma sala de aula. A professora tinha a teoria que a inteligência se media pela curvatura do crânio na zona da nuca. E exemplificava com alguns dos alunos, colocados em perfil junto ao quadro: o Álvaro Zé era lisinho, por isso, burro; O Rui tinha uma curvatura acentuada e por isso era o mais inteligente das turmas; o Carlitos Cabeçudo era um erro da Natureza. Deus devia andar distraído.