Casa de Espíritos

terça-feira, outubro 24, 2006

Açores

Amanhã vou para os Açores. Onze anos depois.

Foram quatro ilhas em 15 dias. S. Miguel, Faial, Pico e São Jorge. Os Açores no seu esplendor. Não importa o sítio onde dormi. E onde comi, apenas me recordo de um ou outro. Porque a perfeição destas ilhas e dos caminhos que percorremos preencheram-me a memória. Foram quatro dias em S. Miguel, numa casa alugada à última da hora, com vista para as lagoas das Sete Cidades. A ilha foi percorrida em carro. A polaroid da minha mente regista o momento mais marcante: a visão da Lagoa do Fogo. Esfrego os olhos porque penso que é uma pintura. Mas também a desilusão: o cheiro insuportável a enxofre nas Furnas e uma notícia triste…
No Faial, as pessoas são do melhor. Mas o Peter’s, o porto da Horta, o vulcão dos Capelinhos, a vista constante que nos mostra a imponente montanha do Pico e as pessoas, mais uma vez as pessoas, que são o mais doce desta ilha.
No Pico, apenas dois dias: no primeiro, chegamos tarde de mais e já não apanhamos o guia que nos levasse ao Pico. Fomos para São Jorge passar mais três dias. Quando de lá voltamos, subimos então ao segundo ponto mais alto de Portugal. A noite foi passada num buraco vulcânico, vestida dos pés à cabeça e enfiada dentro do saco-cama, aconchegada entre o primo e a irmã. A visão matinal é incrível, verdadeiramente lunar. A pior parte: mais de três horas de subida, o frio de rachar, a fome. Valeu-nos o vinho ‘angelica’ dado por uma faialense, que nos aqueceu na subida.
São Jorge. A ilha é totalmente fora do normal. Com uma altura média de 700 metros, as únicas partes que estão ao nível da água do mar são as fajãs, línguas de areia que entram no mar e onde se instalaram algumas das localidades mais importantes, para além de Velas e Calhetas, da ilha. À Fajã mais distante, a de Santo Cristo, chega-se andando (pelo menos meia hora) a pé ou de barco. No único café que lá existe, há apenas duas ou três variedades de bebidas, e os únicos turistas que lá estão somos nós ou um grupo de surfistas hippies instalados há meses. Outra fajã, a do Ouvidor, o senhor do restaurante/taberna/discoteca-na-última-quinzena-de-Agosto preparou a melhor caldeirada do mundo em casa e a trouxe a fumegar pela rua de casa até à nossa mesa. O pior nesta ilha: o carro alugado – um Yugo - e as lebres. Milhares de lebres.


sexta-feira, outubro 20, 2006

Vinicius

Casou nove vezes. Precisava de estar apaixonado. Sofria de morte quando tudo acabava, mas começava tudo como se fosse a primeira vez. Vinicius de Moraes morreu de cirrose, depois de um sem número de tentativas de reabilitação do seu vício no álcool. O poetinha era, afinal, um poeta maior. O poeta do amor puro, do amor dorido (“O amor só é bom se doer”). Fica um poema.

“É inútil fingir
Não te quero enganar
É preciso dizer adeus
É melhor esquecer
Sei que devo partir
Só me resta dizer adeus

(Peço-te perdão
Mas quero-te lembrar
Como foi lindo o que morreu)

E essa beleza de amar
Que foi tão nossa,
E me deixa tão só
Eu não quero perder
Eu não quero chorar
Eu não quero trair
Porque tu foste pra mim, meu amor
Como um dia de Sol…”

quarta-feira, outubro 18, 2006

Suburbano coração

A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz?

Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração

Será que o amor se sente em casa,
vai sentar no chão?
Será que vai deixar cair a brasa
no tapete coração?

Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar

Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração

Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão?
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração!

O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara a desarrumação?
Que tanta cerimónia…
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração

Chico

A data aproxima-se e é bem provável que eu já nem consiga bilhetes para os concertos dele. Francisco Buarque de Hollanda, Chico Buarque, um dos maiores poetas da música de Língua portuguesa, vai estar cá. A última vez foi há muito tempo, num concerto repleto (no pavilhão Carlos Lopes) e cheio de boa energia. Não resisto a escrever algumas das suas letras, ou apenas pequenos trechos, neste blogue. Não sei por onde começar. Talvez por estados de espírito.

segunda-feira, outubro 16, 2006

"O amor é o amor. E depois?!"**

Não nos cansamos nunca de falar sobre amor*.
*para a C.
**parte do poema de Alexandre O'Neill, 'O amor é o amor'

quinta-feira, outubro 12, 2006

Tanto por fazer

"Havia tanto por fazer", disse a tia C., por entre lágrimas quase a chegar. O tio morrera meses antes e era nestas coisas que ela se ia abaixo. O tronco da árvore tinha-se partido, e ao outro ia acontecer o mesmo. "Eu tinha-lhe dito tantas vezes para o cortar, mas ele já não tinha cabeça para nada, suspirou a tia. "Havia tanto por fazer".