Paixão segundo C. (o fim)
C. costumava ir sempre sózinha àquela praia. Uma praia boa de iodo, cheia de rochas. C. colocava os pés com todo o cuidado até encontrar um canto confortável onde pudesse estender a toalha. Naquele dia, pôs mal o pé. Caiu. Quando abriu os olhos, viu sangue no peito, no biquini, nas mãos. Voltou a respirar e levantou-se. Fez o caminho de volta à estrada onde havia deixado o carro. Conduziu até aos bombeiros, sempre a aparar o sangue que teimava em não estancar. Fizeram-lhe o curativo e levaram-na ao hospital, a mais de 80 km dali. Sempre sózinha. Chegou a casa já à noite, com o queixo cheio de pontos. Às 22h, lá estava a mensagem dele. Tinha ligado o telemóvel para a enviar, e desligou logo a seguir. Nunca estava disponível. Não podia estar disponível para ela. Foi no dia da queda que C. decidiu nunca mais lhe responder. Tinha passado um ano e a paixão continuava lá. Mas a queda abriu-lhe o queixo e fechou-lhe o coração.