segunda-feira, junho 30, 2008
segunda-feira, junho 23, 2008
Era uma vez.. a mamã que ainda é uma princesa
(ou como explicar a um filho que a mamã já encontrou alguns príncipes encantados... ou coisa do género)
*in 'As bonecas russas'
(a legendagem não está lá muito boa...)
domingo, junho 22, 2008
sexta-feira, junho 20, 2008
Uma tiara sobre cabelos brancos
Um casal passeia-se de mão dada. Um sorriso brilha no olhar. Olhos presos nos do outro enquanto conversam. O cabelo dela está arranjado, foi de certeza ao cabeleireiro, nota-se um reflexo arroxeado na sua ainda farta cabeleira branca.
Olho para o casal e penso “será que algum dia…?”
(É provável que não. É provável que me fique pelas relações de fugida, que acabam mesmo antes de começar. É provável que quem me queira, queira só pelo que vê e não pelo que sou. É provável que me digam, vezes sem conta, “Estás tão bonita. Estou aqui, preso à tua imagem” e que me olhem primeiro para o decote, depois para o sorriso, e não ouçam sequer o que digo, não sintam o que sinto, não queiram saber dos meus sonhos ou das minhas incertezas)
Tento imaginar-me, de mão dada e sorriso no olhar com alguém. Lá estou eu, cabelos brancos, rugas na cara e nas mãos.
Penso: E o resto? Como é viver com alguém durante tantos anos? Que segredos têm essas relações entre duas pessoas que partilham tudo (?) na vida, que palavras têm de ouvir e engolir, quantas vezes se choram no ombro um do outro, quantas vezes partilham a casa de banho (porquê a casa de banho?), quantas vezes se grita e depois tudo bem, quantas quantas quantas vezes se magoam, torturam com a presença do outro? Quantas vezes se grita por meias sujas no chão da sala, pelo leite fora do frigorífico, pelo cheiro a tabaco que teima em não desaparecer, apesar das janelas abertas? Quantas vezes farão amor, que novas formas hão-de encontrar de sentirem prazer, como hão-de desconhecer o corpo um do outro, quantas vezes mentirão apenas para não se magoarem mais?
Tento imaginar-me. Na verdade, não consigo. Dizem-me: ‘isso é porque ainda não encontraste a pessoa certa’. Talvez. Não encontrei a pessoa que me há-de tratar como uma princesa. Mesmo que nesse dia a minha tiara brilhe menos que os meus cabelos brancos.
Olho para o casal e penso “será que algum dia…?”
(É provável que não. É provável que me fique pelas relações de fugida, que acabam mesmo antes de começar. É provável que quem me queira, queira só pelo que vê e não pelo que sou. É provável que me digam, vezes sem conta, “Estás tão bonita. Estou aqui, preso à tua imagem” e que me olhem primeiro para o decote, depois para o sorriso, e não ouçam sequer o que digo, não sintam o que sinto, não queiram saber dos meus sonhos ou das minhas incertezas)
Tento imaginar-me, de mão dada e sorriso no olhar com alguém. Lá estou eu, cabelos brancos, rugas na cara e nas mãos.
Penso: E o resto? Como é viver com alguém durante tantos anos? Que segredos têm essas relações entre duas pessoas que partilham tudo (?) na vida, que palavras têm de ouvir e engolir, quantas vezes se choram no ombro um do outro, quantas vezes partilham a casa de banho (porquê a casa de banho?), quantas vezes se grita e depois tudo bem, quantas quantas quantas vezes se magoam, torturam com a presença do outro? Quantas vezes se grita por meias sujas no chão da sala, pelo leite fora do frigorífico, pelo cheiro a tabaco que teima em não desaparecer, apesar das janelas abertas? Quantas vezes farão amor, que novas formas hão-de encontrar de sentirem prazer, como hão-de desconhecer o corpo um do outro, quantas vezes mentirão apenas para não se magoarem mais?
Tento imaginar-me. Na verdade, não consigo. Dizem-me: ‘isso é porque ainda não encontraste a pessoa certa’. Talvez. Não encontrei a pessoa que me há-de tratar como uma princesa. Mesmo que nesse dia a minha tiara brilhe menos que os meus cabelos brancos.
Com tão pouca coisa se constrói o mundo
Hoje entrei numa merceariazita para comprar cigarros
Três dias no Porto, num hotel da Foz, com uma nesguinha de mar na janela. À noite, mesmo com as luzes do quarto apagadas, um halo de milagre sobre a cama, um dia mais secreto, mais íntimo, a modelar as coisas e os corpos. A claridade vinda não sei donde, da pele talvez, transfigurava tudo, as almofadas inchavam de luz, cada prega do lençol desfazia-se e refazia-se numa cadência de onda. O silêncio da rua que o silêncio da chuva, de tempos a tempos, aumentava, acrescentando palavras às vozes. Meu Deus, como com tão pouco se constrói o mundo. Uma mulher com duas canas de pesca enterradas na areia, a apanhar sei lá o quê do chão, limos parecia-me, e a jogá-los para longe. O vento feito de propósito para nos desarrumar o cabelo, deixando o resto do mundo em paz. Água cor de farda, barquitos. O charutinho do Zé Francisco espetado no queixo, a dar-lhe um ar de rebocador que transportava navios invisíveis atrás dele. Autógrafos na feira do livro, caras que não vou esquecer. Um sorriso numa cadeira, ao longe: com tão pouca coisa se constrói o mundo. Por exemplo com a gaivota que se passeava nos charcos de um penedo. Por exemplo com um sorriso que põe a boca entre parênteses, e por cima do sorriso um par de sobrancelhas góticas. Entre a boca e as sobrancelhas a região autónoma do nariz, com o seu governo próprio: com pouca coisa, realmente, se constrói o mundo. Não renego nada do que fui e, no entanto, a impressão de nascer: uma doçura que desconhecia. Uma tranquila certeza. O livro que estou a escrever mudou conforme os dias mudaram. Apesar de ser muito difícil torná-lo fácil vem vindo página a página com alegria. A imensa ternura que há em nós, uma plenitude absoluta. Dantes disperso como um rebanho sou um agora. E precisei de imensos anos
(não vou referir-me ao sofrimento, não me julgo no direito de me referir ao sofrimento)
para alcançar isto. Pertence-me. E mais nada importa.
Acabaram-se os três dias no Porto, é segunda-feira e chove. Não chovem nuvens apenas: chovem lembranças antigas, um piano, velhos cheiros quase esquecidos, o louco que vendia passarinhos a conversar consigo mesmo, era eu pequeno. Recuso a ideia que morreu, preciso dos seus gestos sem nexo, das discussões com a própria sombra. Chovem as pobres poesias que compunha aos sete anos, a mão não sei de quem
(uma pessoa crescida que não vejo)
a poisar-me no ombro. Chove a Beira Alta. Chovo eu a começar a Memória de Elefante, roidinho de medo de não ser capaz. Chove o moinho do jardim, as casas que construíram no lugar da quinta. A bicicleta que nunca tive, com mudanças e tudo. Chove o cabo da Guarda que me admoestava
– Rapaz
sem eu ter feito nada. Chovem existências anónimas, importantíssimas. Chovem as árvores lá fora, um pássaro perdido. Chove no Porto, em Torres Novas, na Figueira da Foz. Chove em todos os sítios em que estivemos. E, por dentro da chuva, a clara luz do dia. Começo a entender aquilo de que não tinha ideia, a habituar-me à esperança, à certeza. O padre que disse a missa de corpo presente do meu pai declarou que não fomos feitos para a morte. Agora sei que não fomos feitos para a morte, padre, julgava que éramos perecíveis, não nos sabia eternos. Mesmo a rapariga que viajou até à Áustria para acabar perto da irmã, ela que não possuía mais ninguém. A horrível injustiça disto. Qual é a cor da esperança? Verde? Hoje entrei numa merceariazita para comprar cigarros. Nunca lá vi fosse quem fosse excepto o dono, um senhor delicado. Tudo muito limpo e ninguém. Disse-lhe
– Obrigado
e ele, do fundo da sua solidão
– Obrigado nós.
A que nós se referia? Se calhar está rodeado de gente que a minha cegueira não permite ver.
– Obrigado nós.
como se fosse o Papa ou um rei. E de imediato os olhos para baixo, no balcão, atento como os xadrezistas. Vontade de ficar por ali à procura do nós, perguntar
– Você é o nós?
perguntar
– Onde param os outros?
Mas faltou-me coragem. Às sete desce os taipais, vai-se embora. Os outros, que compõem o nós, irão com ele? Ficam lá, no escuro, murmurando? É uma rua de travestis debruçados para os automóveis, alguns com cadeirinhas de bebé no banco de trás. O que procuram aqueles homens? Pensões miseráveis, corredores com uma lâmpada, tem-te não caias, ao fundo. Há um travesti que nenhum cliente aborda, a mostrar o peito enorme à indiferença dos automóveis, horas seguidas. Mesmo no inverno, com frio. Sem dinheiro para acabar na Áustria. Os clientes dos automóveis com cadeirinhas de bebé serão capazes de olhar as mulheres ao chegarem a casa? Serão capazes de estar com elas sem vergonha? A teia de mentiras de que a maior parte das relações é feita. Uma espécie de náusea em mim, de nojo. Qual espécie. Náusea em mim, nojo. Não compreendo. As cadeirinhas de bebé não me largam a ideia. Não distingo as feições não escuto as conversas. Caricaturas horríveis de mulheres. Como podem aqueles tipos encarar-se no espelho? Pelos vistos podem. Não conhecem de certeza um halo de milagre sobre a cama, um dia mais secreto, mais íntimo, a modelar as coisas e os corpos. As almofadas inchando de luz, cada prega do lençol a desfazer-se e a refazer-se numa cadência de onda, ignoram que com muito pouco se constrói o mundo. Explica-lhes que com muito pouco se constrói o mundo. Tu sabes. Já sabias antes de saber que sabias. Segreda-lhes.
– O mundo constrói-se com muito pouco
enquanto a mulher das duas canas de pesca
(nunca tinha visto uma mulher pescar sozinha)
vai atirando os limos para longe. Atira os clientes dos travestis também. As cadeiras de bebé, essas ficam. E o halo de milagre que há-de permanecer para sempre.
António Lobo Antunes, Visão, Junho de 2008
Três dias no Porto, num hotel da Foz, com uma nesguinha de mar na janela. À noite, mesmo com as luzes do quarto apagadas, um halo de milagre sobre a cama, um dia mais secreto, mais íntimo, a modelar as coisas e os corpos. A claridade vinda não sei donde, da pele talvez, transfigurava tudo, as almofadas inchavam de luz, cada prega do lençol desfazia-se e refazia-se numa cadência de onda. O silêncio da rua que o silêncio da chuva, de tempos a tempos, aumentava, acrescentando palavras às vozes. Meu Deus, como com tão pouco se constrói o mundo. Uma mulher com duas canas de pesca enterradas na areia, a apanhar sei lá o quê do chão, limos parecia-me, e a jogá-los para longe. O vento feito de propósito para nos desarrumar o cabelo, deixando o resto do mundo em paz. Água cor de farda, barquitos. O charutinho do Zé Francisco espetado no queixo, a dar-lhe um ar de rebocador que transportava navios invisíveis atrás dele. Autógrafos na feira do livro, caras que não vou esquecer. Um sorriso numa cadeira, ao longe: com tão pouca coisa se constrói o mundo. Por exemplo com a gaivota que se passeava nos charcos de um penedo. Por exemplo com um sorriso que põe a boca entre parênteses, e por cima do sorriso um par de sobrancelhas góticas. Entre a boca e as sobrancelhas a região autónoma do nariz, com o seu governo próprio: com pouca coisa, realmente, se constrói o mundo. Não renego nada do que fui e, no entanto, a impressão de nascer: uma doçura que desconhecia. Uma tranquila certeza. O livro que estou a escrever mudou conforme os dias mudaram. Apesar de ser muito difícil torná-lo fácil vem vindo página a página com alegria. A imensa ternura que há em nós, uma plenitude absoluta. Dantes disperso como um rebanho sou um agora. E precisei de imensos anos
(não vou referir-me ao sofrimento, não me julgo no direito de me referir ao sofrimento)
para alcançar isto. Pertence-me. E mais nada importa.
Acabaram-se os três dias no Porto, é segunda-feira e chove. Não chovem nuvens apenas: chovem lembranças antigas, um piano, velhos cheiros quase esquecidos, o louco que vendia passarinhos a conversar consigo mesmo, era eu pequeno. Recuso a ideia que morreu, preciso dos seus gestos sem nexo, das discussões com a própria sombra. Chovem as pobres poesias que compunha aos sete anos, a mão não sei de quem
(uma pessoa crescida que não vejo)
a poisar-me no ombro. Chove a Beira Alta. Chovo eu a começar a Memória de Elefante, roidinho de medo de não ser capaz. Chove o moinho do jardim, as casas que construíram no lugar da quinta. A bicicleta que nunca tive, com mudanças e tudo. Chove o cabo da Guarda que me admoestava
– Rapaz
sem eu ter feito nada. Chovem existências anónimas, importantíssimas. Chovem as árvores lá fora, um pássaro perdido. Chove no Porto, em Torres Novas, na Figueira da Foz. Chove em todos os sítios em que estivemos. E, por dentro da chuva, a clara luz do dia. Começo a entender aquilo de que não tinha ideia, a habituar-me à esperança, à certeza. O padre que disse a missa de corpo presente do meu pai declarou que não fomos feitos para a morte. Agora sei que não fomos feitos para a morte, padre, julgava que éramos perecíveis, não nos sabia eternos. Mesmo a rapariga que viajou até à Áustria para acabar perto da irmã, ela que não possuía mais ninguém. A horrível injustiça disto. Qual é a cor da esperança? Verde? Hoje entrei numa merceariazita para comprar cigarros. Nunca lá vi fosse quem fosse excepto o dono, um senhor delicado. Tudo muito limpo e ninguém. Disse-lhe
– Obrigado
e ele, do fundo da sua solidão
– Obrigado nós.
A que nós se referia? Se calhar está rodeado de gente que a minha cegueira não permite ver.
– Obrigado nós.
como se fosse o Papa ou um rei. E de imediato os olhos para baixo, no balcão, atento como os xadrezistas. Vontade de ficar por ali à procura do nós, perguntar
– Você é o nós?
perguntar
– Onde param os outros?
Mas faltou-me coragem. Às sete desce os taipais, vai-se embora. Os outros, que compõem o nós, irão com ele? Ficam lá, no escuro, murmurando? É uma rua de travestis debruçados para os automóveis, alguns com cadeirinhas de bebé no banco de trás. O que procuram aqueles homens? Pensões miseráveis, corredores com uma lâmpada, tem-te não caias, ao fundo. Há um travesti que nenhum cliente aborda, a mostrar o peito enorme à indiferença dos automóveis, horas seguidas. Mesmo no inverno, com frio. Sem dinheiro para acabar na Áustria. Os clientes dos automóveis com cadeirinhas de bebé serão capazes de olhar as mulheres ao chegarem a casa? Serão capazes de estar com elas sem vergonha? A teia de mentiras de que a maior parte das relações é feita. Uma espécie de náusea em mim, de nojo. Qual espécie. Náusea em mim, nojo. Não compreendo. As cadeirinhas de bebé não me largam a ideia. Não distingo as feições não escuto as conversas. Caricaturas horríveis de mulheres. Como podem aqueles tipos encarar-se no espelho? Pelos vistos podem. Não conhecem de certeza um halo de milagre sobre a cama, um dia mais secreto, mais íntimo, a modelar as coisas e os corpos. As almofadas inchando de luz, cada prega do lençol a desfazer-se e a refazer-se numa cadência de onda, ignoram que com muito pouco se constrói o mundo. Explica-lhes que com muito pouco se constrói o mundo. Tu sabes. Já sabias antes de saber que sabias. Segreda-lhes.
– O mundo constrói-se com muito pouco
enquanto a mulher das duas canas de pesca
(nunca tinha visto uma mulher pescar sozinha)
vai atirando os limos para longe. Atira os clientes dos travestis também. As cadeiras de bebé, essas ficam. E o halo de milagre que há-de permanecer para sempre.
António Lobo Antunes, Visão, Junho de 2008
quinta-feira, junho 19, 2008
O monumento
Foi O monumento da viagem. Vistos de fora, parecem sepulturas. Rectângulos cinzentos até perder de vista. Vamos entrando, e as sepulturas transformam-se em pilares largos sobre um chão ondulado, são cada vez mais altas. Parece um labirinto, mas não é. Consegue-se sempre olhar para fora, para o céu, sente-se a luz e as sombras, na paisagem e no espírito, no passado e no presente. Vislumbram-se outros visitantes por segundos, pessoas que se perdem na imensidão cinzenta e árida do cimento. É o monumento de homenagem aos judeus mortos na Europa na segunda guerra mundial. Fantástico na sua simplicidade.
Gonçalo
Foi o meu vício nestas férias. Qualquer bocadinho servia para estar com o Gonçalo. No metro, na esplanada, num jardim ou na varanda do P.. O Gonçalo (para além do M., claro), foi a minha companhia nos dias em Berlim. Não lhe pude resistir. Enquanto viajei fisicamente na capital alemã, viajei mentalmente por Espanha, estive num barco de mercadorias a atravessar o Atlântico até à América do Norte, onde passei, de autocarro, os Estados Unidos, andei mais umas vezes de barco e autocarro na Bolívia, no Perú, na Argentina, subi e desci o Amazonas, fui de barco para a Colômbia e até passei por um paízinho que não fazia ideia que existisse, na América Central. Atravessei o Planeta por trás, pelas águas do Pacífico, até às Filipinas, fui mais fotografada que os koalas na China, passei e senti o cheiro da Índia, conversei com famílias a fazer piqueniques no Irão, emocionei-me com as cidades construídas sobre armas e com as famílias especializadas em gatilhos do Paquistão e até estive prestes a pisar uma mina no Afeganistão! E fiquei tanto tempo em Instambul, imaginando-me acompanhada por esse tal amor que nunca mais chega... Conheci tanta gente interessante, ouvi histórias de pessoas simples mas que fazem coisas incríveis (por mais simples que estas sejam), ouvi outras histórias de pessoas que não se prendem à mesquinhez dos nossos dias. Fiz tudo isto com o Gonçalo. Sim, o Gonçalo passou a ser meu amigo, gente cá de casa, de vez em quando vem cá e conta-me as histórias que parece mesmo que fui eu a vivê-las. O Gonçalo é o Gonçalo Cadilhe, que fez o favor de compilar a primeira fase das suas crónicas do Expresso nesse livro fantástico chamado "Planisfério Pessoal". Entre uma viagem pelo mundo (sempre por terra ou mar), que também é uma viagem dentro de si mesmo, Gonçalo consegue ser diferente de qualquer outro autor de livros de viagens. É simples, engraçado, atento, intuitivo e ainda por cima, escreve bem! Sempre ouvi dizer que quem viaja muito está numa constante busca por si mesmo. No caso de Gonçalo Cadilhe, não sei se já se encontrou, mas pelo menos eu já sei qual é o seu lugar no mundo: fazer com que todos os que o lêem viagem também com ele.
Berlim
5 dias chegaram para conhecer uma cidade onde não me importaria de viver... pelo menos durante uns tempos. Calma, organizada, óptimos transportes, muita gente nova, comida barata, muitas zonas verdes, alemães simpáticos estendidos ao sol (em qualquer relvazinha seca), muitos gays, muitos grafittis, muita arquitectura moderna, muitos turcos e muitas bicicletas... É assim Berlim, a cidade que soube reanimar-se por várias vezes no último século e provavelmente uma das cidades europeias mais interessantes actualmente.