Casa de Espíritos

sexta-feira, junho 29, 2007

Mayra (Rita)

Ontem foi o concerto da Mayra Andrade no Festival Áfrca, ali ao pé da Torre de Belém. A avaliação é: 6******!!! A senhora é melhor ao vivo do que em CD! E eu já era fã dela!Tem um vozeirão, uma presença em palco, uma musicalidade, uma capacidade de improviso e de comunicação com o público que só pode fazer dela uma coisa: uma estrela. Durante partes do show achei que estava a assistir a outra cantora, mas brasileira: Maria Rita. A diferença é que Mayra canta em crioulo, tem a voz mais grave e mais potente. E acho-a até mais jazzística. Acabei o concerto com uma certeza: Mayra Andrade ficou com mais admiradores em Portugal. Esperamos agora por um concerto noutro sítio, onde só vá quem gosta mesmo. Eu proponho a Aula Magna! Rápido!!

sexta-feira, junho 22, 2007

Marisa





E, finalmente, Marisa. Quando lançou os seus dois últimos álbuns, assim, de enfiada, Infinito Particular e Universo ao Meu Redor, só comprei um, o primeiro. Entretanto, já alguns meses, fui ao concerto (lindo!) e esta semana não resisti e comprei o Universo em Meu Redor. Tenho todos os álbuns da Marisa Monte e tenho de dizer que esta mulher parece estar cada vez melhor com o passar do tempo. E eu adoro todos os outros! A sua capacidade para compor músicas (a sua maioria com a parceria dos seus tribalistas Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes) simples é cada vez mais notável. Essa capacidade de se escrever sobre o amor, o amorzinho, a paixão e até sobre a solidão, sobre o que sentimos, todos, com uma lagriminha ao som do cavaquinho é incrível… As letras são uma delícia. Só lendo e ouvindo… De referir que tanto Infinito Particular e Universo em Meu Redor rnderam a Marisa um Grammy Latino, para além de outros prémios de música brasileira.

Alguns excertos de um álbum lindo:

Quatro Paredes

“Eu só não te convido para dançar/ porque o assunto que eu quero contigo é em particular/há tempos tento encontrar bom momento/alguma ocasião propícia/ para que eu possa pegar em sua mão/ olhar nos olhos teus/ seria bom, quatro paredes, eu, você e deus// Procuro explicar o meu sentimento/ e só consigo encontrar palavras que não existem no dicionário/ Você bem que podia entender meu vocabulário…”

A alma e a matéria
Procuro nas coisas vagas ciência/Eu movo dezenas de músculos para sorrir/ Nos poros a contrair, nas pétalas do jasmim/Com a brisa que vem roçar da outra margem do mar //
Procuro na paisagem cadência/Os átomos coreografam a grama do chão/Na pele braile pra ler na superfície de mim/Milímetros de prazer, quilômetros de paixão // Vem pra esse mundo,
Deus quer nascer/Há algo invisível e encantado entre eu e você/E a alma aproveita pra ser a matéria e viver



Satisfeito
Você me deixou satisfeito/Nunca vi deixar alguém assim/Você me livrou do preconceito de partir//Agora me sinto feliz aqui/Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho/Vivo tranqüilo, a liberdade é quem me faz carinho/No meu caminho não tem pedras nem espinhos/Eu durmo sereno e acordo/Com o canto dos passarinhos/Eu durmo sereno e acordo/Com o canto dos passarinhos

Vanessa da Mata



Vanessa da Mata. Comprei o primeiro álbum dela – que, por sinal e em conversa com amigos, é o piorzito -, com arranjos de Jaques Morelembaum. Como gostei, tenho mesmo de comprar o segundo e o terceiro… De qualquer forma, acho que Vanessa, uma brasileira de cabelo mulato, 1,90m e voz muito doce, é uma promessa cumprida da nova geração (pós- Marisa Monte, Adriana Calcanhotto ou mesmo Ana Carolina). Em algumas das canções a voz confunde-se com a de Marisa Monte, noutras com Adriana. Quase todas as músicas e letras são compostas por ela. As minhas favoritas: Onde ir, Case-se comigo, Não me deixe só e Onde ir.

Três cantoras: 1. Mayra Andrade




Já algum tempo que ando para aqui escrever sobre três cantoras e os álbuns mais recentes delas. O tempo não tem sobrado e, por isso, não o fiz. Chegou a hora, pelas mais diversas razões...
1. Mayra Andrade. Esta menina/mulher caboverdiana, que vem a Lisboa já no próximo dia 28, ao Festival África, é óptima. Com apenas um álbum lançado, produzido pelo grande escritor de canções da nova geração de músicos em Cabo Verde, Pantera, Mayra ainda é pouco conhecida em Portugal. O seu primeiro e único álbum, Navega, lançado no ano passado, é todo cantado em crioulo (excepto uma música, em francês). Os sons de Cabo Verde sentem-se, assim como se sentem os brasileiros (bossa) e alguma música do mundo. Tudo muito bem arranjado. Não percebo crioulo e, por isso, entendo agora o que devem sentir o japoneses quando ouvem o nosso fado. As minhas favoritas: Lapidu Na Bo e Mana. Em entrevista à Visão desta semana, Mayra, de 22 anos, diz sentir-se cada vez mais caboverdiana – apesar de viver em França – mas quer quebrar com a tradição no próximo álbum…

quinta-feira, junho 21, 2007

Meu Canário

Marisa, mais uma vez.

Carinhoso

Um dos chorinhos históricos de Pixinguinha, aqui cantado pela Marisa Monte.

quarta-feira, junho 20, 2007

Vai saber?*

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor

Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha do que duvidar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?

(...)

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de jogar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não venha a reconsiderar
Pensando bem, pode mesmo
Chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais

*Adriana Calcanhotto. Gosto especialmente desta música cantada pela Marisa Monte no 'Universo em meu redor'

quinta-feira, junho 14, 2007

No regresso a Lisboa, a manhã está chuvosa e a cassete toca...

Todas as manhãs quando eu acordo eu me lembro de você
Todos os momentos do meu dia não consigo te esquecer
Diga meu amor o que é que eu faço,
Pra não me lembrar do seu abraço, eu preciso te esquecer
Entro no meu carro e ligo o rádio e uma canção que traz você
Tudo que eu vejo de bonito se parece com você
Diga meu amor o que que eu faço
Eu preciso arrebentar de vez os laços que me prendem a você

Chuva fina no meu pára-brisa,
vento de saudade no meu peito
Visibilidade distorcida
pela lágrima caída pela dor da solidão
E a chuva fina no meu pára-brisa
vento de saudade no meu peito
Visibilidade distorcida
pela lágrima caída pela dor da solidão

(sim, sim, é Roberto Carlos. E eu canto!)

terça-feira, junho 12, 2007

O Ruca

O Ruca cheirava sempre bem. No último dia que nos vimos, no hospital em Windhoek, eu saí do quarto da T. e ele vinha a chegar. Vinha ao fundo do corredor, cheiroso (o Old Spice não cheira assim tão bem, mas nele cheirava), vestido de branco. A camisa de linho por fora das calças, o cabelo molhado, penteado com gel, a barba feita. ‘Maninha!’, disse ele entre um sorriso aberto. ‘Estás uma mulherzinha!’ E abraçou-me. Dei-lhe um beijinho na cara e fiz-lhe uma festinha. Ele sorriu e demos alguns passos abraçados. O Ruca cheirava tão bem.

Já fez 15 anos que se foi. Onde estaria ele agora? Onde estará ele agora?

segunda-feira, junho 11, 2007

Uma nova vida

Já não dava. O estômago apertado, o peito ansioso, as dores nas costas. De cada vez que se falavam, ela ia para a casa-de-banho e durante 15 minutos engolia golfadas de ar. Por vezes, vomitava. Era ansiedade, sim. Era qualquer coisa química a meter-se nos poros.
Quando se encontravam, não conseguia deixar de bater a perna. Fumava os maços dos cigarros que não fumava nos outros dias. Fechava os olhos humedecidos quando lhe sentia o cheiro. Queria sê-lo.
Se acaso lhe respondesse mal, se desmarcasse um encontro, as lágrimas cair-lhe-iam pela cara. Deixava-as estar. O sal secaria na cara e adormeceria, qualquer que fosse a hora. Acordaria de manhã, olharia para o telemóvel e morderia o lábio se ele não tivesse ligado.
......
No dia em que a pediu em casamento, ela não enxugou as lágrimas porque elas não existiram. Abriu a janela do quarto, respirou o ar fresco da sua rua de cidade e decidiu. Não conseguiria nunca viver com ele. Apagou o número de telemóvel, mudou de cartão, de email, rasgou as fotografias. Fechou a porta à chave e rezou que ele não lhe implorasse para voltar. Não o esqueceria nunca. Mas ali começaria a sua nova vida.

A linha do amor

Nunca a sua linha do amor estivera tão bem direccionada. Naquele dia, o dia em que decidiu com quem ficava, optou por uma vida estável, sem grandes pressas nem grandes paixões. Optou por uma satisfação mínima na cama, por passar a conhecer melhor o seu próprio corpo na escuridão da noite. Optou por não andar a suspirar pelos cantos por algum homem, mas por passar a olhar para eles com muito mais pensamentos pecaminosos. Optou por uma casa na praia, outra de fim-de-semana, por juntar os filhos em grandes almoços e jogos de bola nas férias intermináveis. Escolheu noites com poucas conversas, a olhar para a televisão, por tostas com queijo e doce de abóbora partilhadas. Optou por não saber muito sobre ele, a não ser o essencial. Por querê-lo q.b.. Por se sentir protegida. Agora que olhava para as duas mãos, para as linhas da vida, do amor e da cabeça, via também que nunca, mesmo nunca, a do amor estivera tão marcada. Optara, então, pelo amor. Era isto o amor.